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FEIJÃO BEST-SELLER

 

Rogério Viana

 

como vender um sonho

que não virou poesia

romance conto peça de teatro

ou outra porcaria que bem poderia

ser um best-seller?

 

assim, o nada virado em

coisa nenhuma é

como a baba do quiabo

difícil de engolir pelo gosto

mas lisa 

que nem o diabo

 

nestas lições pragmáticas

de fazer sonho virar feijão

fico assim com a idéia na mão

e nada, nada mesmo, de

por a mão na massa

 

agora, agorinha mesmo

acordei de um sonho

nele tudo o que sonhara

não tinha mesmo cara de nada

e eu, perdido em devaneios

fico assim, como dizer,

sem meios de poder sobreviver

 

mas eu resisto, pois luto

aliás, hoje é dia de luto,

dia de missa de sétimo dia

de alguém, digo,

de milhões de seres 

que também sonharam

e que, como eu, ficaram sem

poder sonhar com o feijão,

este best-seller

que não nos deixa nem morrer

HAIKAIS

 

- 1 -

 

Quintal com frutas

tem sabor de alegria

- sabiá laranjeira

 

- 2 -

 

Encontro fugaz.

Neblina abraça o velho

lampião de gás

 

- 3 -

 

Há algo no sushi

mais sutil que a alga:

a alma

 

- 4 -

 

Almas gêmeas.

A minha geme e a outra não se acalma

 

- 5 -

 

Nasci na praia -

a primeira rima veio

com a brisa

Aqui algumas das minhas poesias e haikais que

foram publicadas no livro TRINTA TOQUES

(1999 - Editora Engenho da Letra - Piracicaba - SP) 

e outras que estão publicadas no site

RECANTO DAS LETRAS

Poesias

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PALAVRAS ROTAS

 

Rogério Viana

 

haja palavra para tanto discurso

tanta promessa, tanto descaso

tanta esperança, tanto fracasso

tanto furor, tanta ressaca

 

há palavras que me cutucam

outras me assustam

algumas que me fogem – a maioria

aquela uma vem e vai

 

houve um tempo que palavra valia

hoje, palavra vazia é o que se vê

que se ouve, que se lê

que se pega pelo pé, essa vadia

 

já faz algum tempo que tento

quase me arrebento por ela

- eu vivo de você e você bem sabe

a palavra é meu sustento

 

dormia no sofá uma palavra veio

me pegou assim sem querer

bateu em mim de cheio

uma palavra bala perdida

 

tento jogar palavras fora

jogo com elas, jogo insano

pego aqui, escrevo ali

a palavra sempre me vence

 

sem forças para vencer

sem raça para ganhar

sou como o velho perdedor

caído por palavras rotas


 

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